sábado, 10 de novembro de 2012

Amizade e dor na MI

Tem certas situações que nos acontecem para aprendermos a valorizar a vida

Todas as vezes que volto ao Hospital Universitário para fazer a acompanhamento do tratamento  contra a Hepatite  C  sempre saio de lá com esta sensação.  Em 2008 quando fiz minha primeira biópsia de fígado, conheci Laura que hoje é uma amiga querida que tem me ensinado muito.


Desta vez foi diferente, pois eu já estava mais preparada para enfrentar aquele momento que, para mim, deixara de ser novidade.  Contudo, eu sabia que conheceria novos personagens que passariam a fazer parte da minha história. Logo na chegada, na sala de espera, enquanto eu aguardava  a internação, conheci Carol, uma jovem linda que chegou numa cadeira de rodas, empurrada por Fabinho, pai do pequeno  Caio  de quatro anos.

Comunicativo e desinibido, Fabinho rapidamente resumiu sua história com Carol. Lembrou que a conheceu com 17 anos e que ela era tão bela que chamava atenção de todos por onde passava. Falou com orgulho dele e o filho não terem sido infectados pelo HIV e comemorava  o fato de sua amada ter saído viva da UTI após 15 dias de isolamento por causa da parada de órgãos vitais como pulmão e rins.  “Foi um milagre”, repetia ele.

Ao adentrar na enfermaria 01, onde fiquei  internada por dois dias,  me deparei com Inês e Clarice. Meu leito ficava no meio das duas camas e foi ali que derramei em risos e  lagrimas ao conhecer uma parte da história de vida destas mulheres. Após um banho rápido, vesti o pijama listado do hospital. A partir dali me senti parte daquele ambiente. Independente do tipo de enfermidade que cada uma tinha, nos tornamos iguais. Nossos pensamentos e emoções  se resumiam no desejo estar em casa ao lado da nossa família.

Num primeiro momento me senti incomodada com os gemidos de Inês. Remedi-me ao saber que ela, além de portadora do HIV, tinha câncer na garganta que causava dor até para respirar. Já Clarice disse estar internada por causa de meningite. Tomava um medicamento fortíssimo  que causavam  náuseas, dores de estômago e de cabeça. Algumas horas antes da minha saída ela me confessou que também adquiriu o HIV e que começaria em breve tomar o coquetel.

Nossa primeira noite juntas foi marcada por relatos do cotidiano de cada uma. Clarice desabafou sobre os desafios de educar seu casal de filhos adolescentes e Inês contou que estava com saudade de sua única filha que, há tempos, não a visitava.  Ao amanhecer meu coração sentia a necessidade de ler a palavra de Deus para aquelas mulheres. Eu precisava de alguma forma passar mensagens de esperança e de amor. Abri o livro sagrado e li o Salmo 51 e choramos juntas ao entender o que o Criador queria nos dizer.


Após a oração, uma cumplicidade enorme tomou conta dos nossos corações. Um abraço apertado selou o começo desta história que ficou guardada dentro de mim. Minha despedida teve uma sensação de alívio e dor por deixar minhas novas amigas naquele hospital. A mim resta escrever o que vivi e crer que o Criador ouviu nossa prece e nos dê a graça gozar nossa vida com paz e saúde ao lado de nossa família.

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